domingo, 13 de dezembro de 2009

Confidentes do Diabo


Um dia, cansado de ver sua inteligência ignorada por Deus, o Diabo, resolve traçar um plano mirabolante para confundir a mente dos Homens e disseminar o mal pela Terra, a fim de conseguir atrair a atenção do Todo Poderoso para si. Talvez, atacando o Homem – a criação simiesca -, Deus perceberia o quanto estava sendo desatento com seu filho vaidoso, Lúcifer.
O ataque consistiria, primeiramente, de confusão mental e delírio, e para tanto o Diabo resolveu fantasiar-se de Deus. Mas isso não bastaria, visto que as pessoas poderiam desconfiar do truque, embora Deus nunca tivesse se mostrado para ser visto. O motivo de tão inexplicável ausência pública de Deus permaneceria um mistério até hoje.
Por que não passar-se por Deus fazendo sua vez, já que os homens eram seres imperfeitos, inferiores, e, portanto, jamais perceberiam o truque? Como ninguém nunca havia visto Deus seria fácil ludibriá-los. Entretanto, o Diabo não conseguiria tamanha proeza, dada a multiplicidade de culturas e crenças existentes no mundo. Ele precisaria dar formas variadas à sua ideia, para, com efeito, moldar seu intento a cada povo e cultura. Para tanto, para que seu plano obtivesse êxito, ele precisaria de uma estratégia que deixasse o homem ocupado de maneira a não perceber o seu disfarce, ao passo que ele pudesse atacar a maior fraqueza humana. Foi então que ele descobriu a Fé. Destarte ele decide escrever vários livros sagrados, cada um com seu próprio deus, Lei, narrativa e moral, com a finalidade de subverter a conduta humana contra si própria. Cada um dos livros teria sua respectiva cultura representada como centro do mundo. Variados foram os nomes, Torá, Novo Testamento, Alcorão, dentre outros.
Não demorou muito para que os homens se encantassem com a suposta presença divina manifestada em palavras de logro nos referidos livros e começassem a criar interpretações acerca de seus respectivos deuses e suas respectivas leis morais, tentando criar uma suposta ordem nas ações humanas. Porém, aí começou o caos.
Quando o primeiro homem com um desses livros encontrou um outro com um livro diferente, com um deus diferente, estes começaram a estranhar-se, começando assim o baile do Diabo. Tais livros não eram condizentes entre si, e o Homem sentiu-se com medo, ameaçado pela concepção dos seus semelhantes acerca do divino, taxando-os de mentirosos, pagãos, apóstatas, inferiores, e assim por diante. Deste modo, o Homem começou a destruir-se, orientado pela sua Fé.
Foi então que o Diabo conseguiu o que queria. Espalhou a discórdia pela Terra por muitos tempos e povos, paulatinamente desinteressando pela fantasia de Deus e deixando seu plano ao gosto dos homens que acreditaram tornar-se pessoas mais sábias ao seguirem livros supostamente escritos por Deus.
Contudo, alguma coisa deu errado, pois Deus não apareceu para intervir ou reclamar pelos livros que não haviam sido escritos por ele. Ele simplesmente ignorou tudo. E o Diabo, aborrecido e frustrado, abandonou seu próprio plano e deixou os homens definhando à sua própria sorte.
Outras religiões surgiram, independentemente do obséquio do Diabo, saindo melhor que a encomenda, pois os homens embebedaram-se em sua própria fé, tecendo teias de interpretações dos livros sagrados até tempos contemporâneos.
Alguns poucos homens passaram a acreditar serem deveras inferiores, pois Deus preferiu deixar-los à mingua nas mãos do Diabo para que ele se curasse da própria vaidade. Enfim, não se soube quem nos destratou mais, se Deus ou o Diabo.


Aos maus leitores, uma rápida explicação: Tipos de Crônica

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