Cético, ateu e pessimista, mas dotado de uma força de vontade contagiante, acabei passando na segunda fase também, uma semana depois. No dia seguinte aconteceria a terceira e última fase da seletiva, um exame de capacidade física. Mas eu já me sentia um vitorioso por ter chegado tão longe.
Gosto muito da estética da Umbanda, talvez pela simplicidade e a humildade sábia que ela carrega consigo. E nos dias que antecederam a primeira fase da seletiva me senti muito ligado à figura de Seu Zé Pelintra... Sou cético, mas não sou insensível ao Mundo.
No dia seguinte, horas antes do exame médico, resolvi almoçar cedo para pegar o restaurante vazio e menos tumultuado. Quando sentei-me à mesa, noto um senhor bem velhinho, aparentemente com seus 90 anos, de boina e bigode bem aparado, aproximando-se com seu prato para almoçar. Acenou para mim com a cabeça e sentou-se numa mesa à frente da que eu estava. De frente para mim, puxou conversa. Conversamos durante o almoço todo; falamos sobre conhecimento e existência - ouvi muito mais que falei -, mas a máxima do colóquio foi quando me disse que "a vida é curta para ser pequena". Me senti emocionado na maior parte do tempo, amiúde me segurando para não deixar lágrimas caírem. Tratava-se de um senhorzinho lúcido, comunicativo e que sabia do tamanho que o conhecimento ocupa na Vida de todos nós.
Ao me despedir, ele agradeceu pela companhia e que estava muito feliz por ter encontrado um novo amigo.
No final da tarde, enquanto eu voltava já com o resultado do exame médico em mãos, caía uma chuva malandra. Finalmente eu estava aprovado para compor o quadro de tripulantes de uma das maiores cias aéreas da América do Sul.
Tive a sensação de uma daquelas noites frescas e calmas de outono em torno de mim, embora São Paulo, lá fora, estivesse molhada e gelada!
O ar frio em dias de céu de brigadeiro e o crepúsculo vespertino do Outono... esses sim formam o meu verdadeiro religare.
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