domingo, 22 de novembro de 2009

Treinamento de Sobrevivência


Fome, frio, sono... é curioso como estas sensações nos afastam dos vícios da "civilização" e nos revelam quem, de fato, somos.
Na madrugada do dia 15 de maio de 2009 iniciamos o Treinamento de Sobrevivência em Selva e Mar no litoral norte de SP, pela Escola de Aviação Congonhas, incluindo as turmas 170 a 173. Exigência comum feita pela ANAC para os futuros comissário que pretendem ingressar neste ramo. Retornaríamos no domingo, dia 18 de maio de 2009.
Quando nos percebemos à deriva na imensidão da mata-atlântica, algo nos tocou, fazendo-nos trabalhar em equipe pacientemente. Com efeito o clima de companheirismo tomou conta do acampamento mesmo entre os alunos de outras turmas.
Parte do grupo, inclusive eu, sofreu um ataque de abelhas nativas. Momento crítico do treinamento. Por vezes, cheguei a pensar no absurdo de não termos sidos feitos para viver em um ambiente como aquele, porém, à medida em que nos permitimos envolver pelo "rítmo" da selva, começamos a nos perceber integrados a ela. A experiência de ter mastigado um carangueijo vivo após o choque da escassez de alimentos acabou nos revelando o que de fato se esconde por trás da endumentária de civilização que amiúde nos gabamos arrogantemente de vestir. Nos tornávamos humildes ao passo que caminhávamos selva a dentro. Deste modo, o tempo passava entre a vegetação nos ensinando que precisamos de muito pouco para viver.
Não há como lutar contra a Natureza, ela se apossa de você e vence... silenciosamente.
Quando de volta a São Paulo, algo da selva havia ficado dentro da minha cabeça, eu caminhava pelas ruas ao voltar para casa como se alguma conexão tivesse sido criada entre eu, a selva e os demais estudantes de comissaria. Sem que tivéssemos percebido, um sentimento de comunhão com a natureza havia se formado de maneira muito nostálgica e envolvente. Estranho... como é possível sentir falta de um ambiente que lhe agride, lhe castiga?
Esta foi uma experiência que jamais esquecerei, pois nos propiciou amadurecimento e respeito pela natureza e ao próximo, adjuntamente à certeza de que somos seres extremamente vulneráveis, e que, por não sermos capazes de aceitar a sabedoria que vem de dentro deste mundo fechado que é a selva, acabamos por escapar para um mundo urbano, artificial que nos furta toda a simplicidade e a força necessárias para uma vida sadia.
Sinto agora que algo extraordinário esteve junto a nós o tempo todo lá dentro, porém, somente ao final da jornada pudemos nos dar conta da presença incógnita e extraordinária que esteve o tempo todo à nossa companhia.
Em resumo: terrível, enaltecedor, emocionante...

OgAAANKhJCkOZBXTKSY8NCC7mej3uZ_sULOzp4fpMy-jKmeV74wp3a4-gDMmX0bX_EhMyIuYNjhT1Yx5VUg5x8q6fGMAm1T1UEfqrTlRAbuFf7EL68bJ_IsZh40RAos instrutores, atenciosos, de pulso firme e coração grande, muito obrigado por toda a disciplina que nos foi legada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário